PAUL HOOVER
CHINESE FIGURES
let me say the song
that will sing it well
song’s long sound:
cries along the hall
hare in the moon
man on the ground
the doors are wide open
all is context now
*
no thatched cottage
but a beach house on the hill
the rain is heavy
mist all over the roads
cars driving
and in the wrong direction
no footsteps on the landing
none in the house
*
a show place for the sun
everywhere it goes
hot on the water
caught among the rocks
shining up the stairs
the wrong way now
gods on the ground
are changed by our desires
*
sounds like something real
but no one spends attention
we’re overloaded now
every surface known
indecently as well
a culture numbed and stung
by the image it’s become
work it hasn’t done
*
everything’s forever
no changes in the sun
what feels old is triumph
silence begs a hearing
something like a pause
every note is yes
there’s no such thing as none
until you add it up
*
hold me in your hearts
fold me on your tongues
fire’s song, tree’s gone
now the lights are on
silly yet indecent
innocent as well
syllables are able
it’s a tribal day
*
nature makes mistakes
all of them ours
it knows what we have done
before we have conceived it
dust falling modern
on all the neighborhoods
time’s up but keeps on raving
as they drag it from the stage
*
here we are, the world
what is and what has been
how much dark is needed
before we know it well
let me keep this keeping
mu is wood, quang enclosed
enclose them with a bell
soften it with snow
*
sleeping on the run
dreaming of extinction
everyone sleeps alone
on the ice of his choosing
we open the forest door
and the light brims over
all dreamed things are open
no knowledge of the closed
*
the swallows dart quickly
but the owl is heavy
people leave their porches
to watch television
history will remember
eternity came early
blue light in the windows
as far as you can see
*
you don’t feel much
don’t think much either
the little dog hates you
even when it smiles
something in the language
doesn’t know us well
ten kinds of typeface
and not one style
*
not exactly poignant
the price of merchandise
guess we’ll have to find
another culture later
space is too exacting
and time wears plaid
we have lived our lives
according to its plan
BONECAS CHINESAS
deixe-me dizer o canto
que há de bem cantá-lo
o longo som do canto
chora ao corredor
lebre na lua
homem no chão
as portas se escancaram
agora tudo é contexto
*
não chalé de palha
mas uma casa de praia na colina
a chuva cai pesada
neblina pelas estradas
carros conduzidos
na direção errada
nenhum passo no pórtico
nenhum na casa
*
um palco para o sol
onde quer que ele vá
quente na água
pego em meio as rochas
brilhando nas escadas
mas na contra-mão
deuses no chão
mudados por nossos desejos
*
parece algo real
mas ninguém presta atenção
estamos sobrecarregados
toda superfície é conhecida
e indecentemente
uma cultura picada e adormecida
pela imagem do que se tornou
o trabalho que não terminou
*
tudo é para sempre
o sol não muda
o que parece velho é triunfo
silêncio pede ouvidos
algo como uma pausa
cada nota é sim
não há algo como o nada
até se considerá-lo
*
guardem-me nos peitos
dobrem-me nas línguas
a canção do fogo, foi-se a árvore
agora as luzes se acendem
tolo mas indecente
bem como inocente
sílabas são hábeis
é dia de tribo
*
a natureza erra
e os erros são nossos
ela sabe o que fizemos
antes de o pensarmos
poeira cai moderna
em todos os bairros
maníaco ainda o tempo se finda
ao se arrancá-lo do palco
*
aqui estamos, o mundo
o que é e o que foi
de quanta treva precisamos
até que o conheçamos
deixa-me manter tal manter
mu é madeira, quang cercado
cerca-os de um sino
amaciado à neve
*
dormindo em fuga
sonhando a extinção
todos dormem sozinhos
no gelo que elegem
abrimos a porta floresta
o lume a contorna
abrem-se as coisas oníricas
inscientes do fechado
*
as gaivotas dardejam
mas pesa a coruja
o povo troca as varandas
por televisões
a história se lembrará
precipita-se a eternidade
luz azul das janelas
aonde a vista alcança
*
não sentes muito
também não pensas muito
o cãozinho te odeia
até quando sorri
algo na língua
não nos reconhece
dez tipos de tipo
e nenhum estilo
*
não punge de fato
o preço da peça
teremos de, por ventura,
achar outra cultura
o espaço se impinge
xadrez traja o tempo
vivemos nossas vidas
seguindo o seu plano
—translated by sean negus
THE WINDOWS (EPHEMERAL LADDER)
for raúl renán
Where
do
words
reach,
above
and
below,
repeating
their
feast
for
the
gift
of
thin
air,
where-
upon
they
speak
their
blue-
black
names.
Bestirred
by
gusts
of
meaning,
the
idiom’s
private
music
being
just
enough,
the
body’s
left
ripe,
begotten
of
no
one,
its
columns
of
thought
breaking
and
turning,
because
the
poem
says,
forget
that
we
met,
you’re
nothing
to
me
now,
the
ice
in
no
dice,
owl
in
bowl.
The
wolf’s
only
truth:
we
must
obey
the
tooth.
When-
ever
it
rains
on
sacred
serpent
mounds,
a
foot
goes
out
of
bounds,
we
collect
all
the
meaning
that
never
reaches
words.
We
suffer
contemplation,
admire
the
least
erection,
finally
there’s
the
town
of
childhood
comprehension,
spun
from
sugar,
crackling
in
the
pan.
Landes-
werker
landes-
mann,
where
is
the
land?
Where
do
we
stand
to
watch
the
waiter
wait,
snow
hesitate
in
dropping
to
the
ground?
After
the
embrace,
the
turning
away,
before
the
last
letter,
what
the
postman
has
to
say.
In
a
voice
like
evening,
infinity
is
a
sea,
its
sun
gone
home.
The
poem’s
solar
system
consists
of
sonic
holes,
abysses,
pesos,
kisses.
What
anchors
can
meander,
cerebral
and
coyotl.
Running
with
our
accents
through
the
known
world,
the
most
sonorous
word
becomes
simpatía
in
its
silken
under-
clothes.
What
they
call
suspense
is
not
parenthesis.
A
Beckett
play’s
propelled
by
its
dead
ends,
forever
to
remain
the
comma
in
the
sentence,
its
broad
landscapes
and
inverse
vistas.
You
must
begin
in
fire
and
work
toward
coal—
whelped
pup
and
kittens
racing
toward
the
storm,
rain-
gray
faces
staring
from
our
doors,
a
paper
sun
burning
in
a
paper
sky,
the
brightness
of
the
lapis,
our
grammars
and
our
chairs.
Don’t
run
toward
the
light,
verbs
in
your
veins;
caballero,
go
solo,
no
reason
not
to
craze.
Can’t
quite
remember
whom
to
turn
to,
where
the
money’s
buried,
and
why
milk
turns,
mother’s
touch
is
brilliant,
and
genius
is
a
blur.
There’s
one
thin
ladder
for
all
the
words
to
climb,
soon
all
the
room
a
body
ever
needs.
For
god’s
sake,
she
said,
don’t
say
the
names
of
things
we
all
fall
from.
AS JANELAS (EF[E]MERA CADEIRA)
para raúl renán
Onde
as
palavras
alcançam,
acima
e
abaixo,
repetindo
seu
banquete
pelo
tal
dote
do
ar
rarefeito,
sobre
onde
eles
falam
seus
nomes
azuis
negros.
Remexidos
por
sopros
de
sentido,
a
música
privada
do idioma
sendo
só o
bastante,
o corpo é
abandonado
maduro,
parido
por
ninguém,
suas
colunas
de
pensamento
partindo-se
e
transformando-se,
porque
o
poema
diz,
esqueça
que
nos
conhecemos,
você é
nada
para
mim
agora,
a
era
no
já
era,
ela
na
tigela.
A
única
verdade
do lobo:
devemos
obedecer
o dente.
Quando
quer
que
chova
sobre
sacras
pilhas
de cobras,
um
pé
trans-
gride
os
limites,
nós
coletamos
todo
o
sentido
que
nunca
alcança
as palavras.
Nós
sofremos
contemplação,
admiramos
a
pior
ereção,
finalmente
há
a
cidade
da
infante
compreensão,
tramada
de
açúcar,
trincando
em
uma
panela.
Landes-
werker
landes-
mann,
onde
está
a
terra?
Onde
enfim
ficamos
para
ver
o
garçom
esperar,
neve
hesita
quando
cai
no
chão?
Depois
do
abraço,
a
sepa-
-ração,
antes da
última
carta,
o que
o carteiro
tem
a dizer.
Em
uma
voz
feito
noite,
o infinito
é
um
mar,
seu
sol
se
pôs.
O
sistema
solar
do poema
consiste
em
buracos
sônicos,
abismos,
pesos,
beijos.
Que
âncoras
podem
errar,
cerebral
e
covotl.
Correndo
com
nossos
sotaques
através
do
mundo
conhecido,
a
palavra
mais
sonora
se torna
simpatia
em
suas
sedosas
ca-
misolas.
O que
eles
chamam
suspense
não
é
parêntesis.
Uma
peça
de Beckett
propalada
pelas
suas
pontas soltas,
para
sempre
permanecer
a
vírgula
de
uma
sentença,
suas
vastas
paisagens
e
reversas
vistas.
Você
deve
começar
no
fogo
e
caminhar
até
o carvão –
frágil
filhote
e
gatinhos
correndo
para
a
tempestade,
rostos
cinza-
chuva
fitam
das
nossas
portas,
um
céu
papel,
o
brilho
de
um
lápis,
nossas
gramáticas
e
nossas
cadeiras.
Não
corra
para
a
luz,
verbos
em
suas
veias;
caballero,
segue
solo,
sem
razão
de
não
enlouquecer.
Não consigo
me
lembrar
a quem
virar-
me,
onde
o
dinheiro está
enterrado,
e
porque
o leite
verte-se,
o toque
da mãe
é
brilhante,
e
o gênio
é
um
borrão.
Há
uma
fina
cadeira
para
todas
as
palavras
es-
calarem,
logo
todo
o
espaço
de que
o corpo
sempre
precisa.
Pelo
amor de
Deus,
ela
disse,
não
diga
os
nomes
das
coisas
de que
todos
nós
caímos.
—translated by rodrigo bravo
REPETITION AND DIFFERENCE
“The infinite resources of the thickness of things”
-Francis Ponge
swept snow and kept it.
empty arms waving.
birds erased by wind.
a journal of aesthetics.
a train is the ghost.
slipping through the zoo.
the fog itself is warm.
too primitive to be dreary.
cold mountain beings.
wearing stone clothing.
the history of empty space.
steaming at the table.
the modern world is tender.
snow on all its owls.
to sing an empty room.
go to bed scowling.
a sensuous apprehension.
leaps the world’s meanings.
What do you mean, boulders.
along the doorway border.
he called it diamond silence.
hidden by its brightness.
river and its ladder.
sun falling on your knees.
a roaring river fire.
house key in the snow.
must be silence walking.
in three-word groups.
comparable to water.
a white trackless skyway.
dogs sleep on the road.
beneath the sound of scree.
among the honey jumpers.
bleary to the bone.
it’s warm underground.
her lovely snapping eyes.
the world’s leaf laden.
that’s a yellow path.
handprint on the window.
it’s never egret season.
an oath before we sink.
punching holes in water.
blue lupine eyes.
and for a common cause.
eternity’s going slow.
about to take the corner.
who’s immortal now?
the stove’s about to go.
another ragged actor.
your permanent shadow.
naked in that realm.
all laughter is solemn.
distance is in ribbons.
don’t hurry falling down.
it was called the lipstick riot.
I heard strains of music.
the unaccountable stars.
tell a public secret.
crayfish and momentum.
sleeping isn’t resting.
resemblance is a peach.
the sunlight’s whipping now.
a valley three states wide.
and not a single fire.
a life of ledge walking.
seems so normal now.
no tree falls inward.
I’m your gun for hire.
the campfire takes a walk.
across six mountains.
stands near the lake.
screaming at the bees.
river approaching heaven.
glamorous yellow aspens.
it’s snowing in the song.
soon the empty words.
spread of pine needles.
wet feet on concrete.
eternity’s not a game.
the seasons are amazing.
sea greenness and the journey.
dreaming at the gate.
are we in or of the dance?
a handsome secret man.
the shadow of your smile.
fracture of your hand.
comparisons are listening.
blue eyes down the line.
appetite is enough.
he summarized an owl.
assiduous imperfections.
snow bank and white towel.
shadow and actor.
I sat down on the fire.
the plums were overripe.
the place seemed familiar.
beauty isn’t endless.
thought dies on the tongue.
nothing is transparent.
everything half done.
what’s original now?
immediate but distant.
naming every gesture.
history is the vestige.
overflow of powerful grammar.
waste product: contemplation.
a series of vivid abstractions.
flourishing off the page.
the god of disproportion.
moves in fictive time.
a thought on her face.
submerges once again.
the desperation to mean.
lucidity and madness.
what does ‘ought’ propose?
moral reserves on empty.
the grass is at attention.
a faucet steadily drips.
the light behind an object.
needs no complication.
why is heidegger quiet?
where’s the emperor tonight?
watching with steady eyes.
nothing thinking something.
REPETIÇÃO E DIFERENÇA
“Os recursos infinitos da grossura de coisas”
-Francis Ponge
neve varrida e o ficou.
braços vazios acenando.
pássaros apagados pelo vento.
um diário de estética.
um trem é a fantasma.
deslizando pelo zoológico.
a bruma mesma é morna.
primitiva demais para ser sombrio.
seres de montanha fria.
usando roupas de pedra.
a história de espaço vazío.
a vapor na mesa.
o mundo moderno é terno.
neve em todos suas corujas.
cantar um quarto vazio.
ir pra cama com cara fechada.
uma apreensão sensual.
salta os sentidos do mundo.
Como assim, rochas.
pelas bordas da porta.
o nomeou silêncio diamante.
ocultado pelo seu brilho.
rio e sua escada.
sol caindo por seus joelhos.
um fogo ardente do rio.
chave de casa na neve.
deve ser silêncio caminhando.
em grupos de três palavras.
comparável com agua.
um skyway branco sem trilha.
cachorros dormem na rua.
sob o som de scree.
dentre dos saltadors de mel.
ofuscado ao osso.
faz calor sob solo.
seus olhos belos estalando.
o mundo é carregado de folhas.
isso é um caminho amarelo.
marca de mão na janela.
nunca é tempo de garça.
um juramento antes que afogarmos.
furando furos em água.
olhos azuis lupinos.
e por uma causa comum.
eternidade vai devagar.
quase dobrando a esquina.
quem é imortal agora?
o fogão está quase no fim.
um outro ator esfarrapado.
sua sombra permanente.
nua naquele reino.
todo riso é solene.
distância é em fitas.
não se apressar caindo.
foi chamado o protesto batom.
ouvi tipos de música.
as estrelas incontáveis.
contém um segredo público.
lagostim e momento.
dormindo não e descansando.
semelhança é um pêssego.
a luz do sol está chicoteando agora.
um vale três estados largo.
e não um fogo singular.
uma vida de caminhada na borda.
parece tão normal agora.
nenhuma árvore cai por dentro.
Eu sou seu pistoleiro.
a fogueira dá um passeio.
através de seis montanhas.
fica perto do lago.
gritando nas abelhas.
rio se aproximando do céu.
glamorosos álamos amarelos.
está nevando na canção.
em breve as palavras vazias.
difusão agulhas de pinheiro.
pés molhados no concreto.
eternidade não é um jogo.
as estações são incríveis.
verdura do mar e a jornada.
sonhando no portão.
somos na ou da dança?
um belo homem secreto.
a sombra do seu sorriso.
fratura da sua mão.
comparações estão escutando.
olhos azuis abaixo da linha.
apetite é suficiente.
ele sumária uma coruja.
imperfeições assiduas.
banco de neve e toalha branca.
sombra e ator.
Eu me senti no fogo.
as ameixas foram passadas.
o lugar parecia conhecido.
beleza não é sem fim.
pensamento morreu na língua.
nada é transparente.
tudo meio feito.
o que é original agora?
imediato mas distante.
nomeando cada gesto.
história é o vestígio.
overflow da gramática poderosa.
produto residual: contemplação.
uma série de abstrações vividas.
florescente da página.
o deus da desproporção.
move no tempo fictivo.
um pensamento no seu rosto.
submerge mais uma vez.
a desesperação para significar.
lucidez e loucura.
o que ‘deveria’ propor?
reservas morais em vazia.
a grama está na atenção.
uma torneira pinga constantemente.
a luz detrás um objeto.
não precisa de complicação.
por que heidegger é quieto?
onde está o imperador esta noite?
observando com