SIMONE HOMEM DE MELLO
FACING THE SUNLESS DEAD
(OUTRO ÓRFICO)
Retornou
do Orco,
como raros,
a prenunciar
o que a morte
oculta.
Em vão, ela
quis selar
seus olhos,
eclipsá-los,
a bálsamo
cegá-lo.
Mas ele mirou
Perfurou,
com olhos
argutos,
“o rombo
no tecido
do espaço”
– e entreluziu.
Fáustico, voltou-
se, viu-a
no véo, ele,
no meio do
vórtice-vertigo.
Só, ele
retornou
do negro
Orco com o
branco koan
aos cegos:
um cristal
de neve
(r more)
FACING THE SUNLESS DEAD
(OUTRO ÓRFICO)
Returned
from Orkon
the rare ones,
announcing
what death
hides.
In vain, she
wanted to seal
his eyes,
to cloak them,
with balm
to blind him
but he aimed
and Pierced
with sharp
“eyes,
the gap
on the fabric
of space”
– and shone in between.
Faustic, he turned him-
self, saw her
in the void, he,
amid the
vertigo-vortex
Only, he
returned
from the dark
Orkon with the
white koan
to the blind:
a crystal
of snow
(-nada)
RUÍDO
Conchas dispersas
pelo mar de muros
ecoam outro outono
O raso das antenas
capta em parábola
a mensagem elíptica
Empoçada no côncavo
a mesma luz rasteira varre-ruas
infiltra-frestas agora transmite
Fora do ar
a tela alterna faixas
crespas ondas tecem
o marulho teledifuso
Coados fatos, feitos e ditos
a concha colada ao ouvido
escoa um silêncio rarefeito
Incide ou-
tonal emite
um sol sem zênite
NOISE
Scattered seashells
through the sea of walls
echo another fall
The antennae’s shallowness
captures in parabolic
the elliptic message
Buried in the concave
the same shallow street-sweeping
crack-invading shallow light now relays
Out of broadcast
the screen alternates bands
crumpled waves weave
the telescattered blast
Filtered facts, deeds and speeches
the shell stuck beside the ear
leaks a rarefied silence
Affects au-
tumnal emitting
a sun without a zenith
DOS TERRITÓRIOS
(UM ROTEIRO)
Prestes a romper
o cerco,
não mais contra-
cenar com seus
senos e co-
cientes.
Sem pensar
duas vezes, dis-
pensar sentidos
e sentinelas, re-
baixar a guarda
de fronteiras,
proscrevé-la.
Abolir alfândegas
clãs e destinos.
Sem prós e pós-
tumos túmulos,
decepar a rosa
dos rumos,
dissipar ventos
(oito deles),
despir-se de
pares e dispares
Minar
a margem
(terceira)
de um rio
anônimo
Extra-
ditá-lo.
FROM THE TERRITORIES
(A SCRIPT)
About to break
siege,
and no longer act
again with one’s
sins and co-
signs.
Not thinking even
twice, dis-
pensing senses
and sentinels, lo-
wering the guard
of frontiers,
to proscribe it.
Abolishing customs
clans and fates
Without pros and pos-
thumous tombs,
cutting off the rose
from the routes,
dissipating winds
(eight of them),
undonning
pairs and dispairs
Mining
the margin
(the third)
of an anonymous
river
Extra-
dicting it.