bianca lafroy

BIANCA LAFROY

(NADJA)

Nadja,
A PASSANTE ENIGMÁTICA,
aparição-desaparição
e perigo.
Eu sou todos os mitos
de Maria Madalena.
Eu juro que não sou Júlia Wanderley
Serei Jo Calderone by Gaga?
Leo? Lou?
(“Não sou uma resposta
Eu sou uma pergunta.”)
Ou o dialeto inventado
em língua-esperma.

 

(NADJA)

Nadja,
THE ENIGMATIC WANDERER,
apparition-disapparition
and danger.
I am all myths
of Mary Magdalene.
I swear I’m not Julia Wanderley
Could I be Jo Calderone by Gaga?
Leo?Lou?
(“I’m not an answer
I am a question.”)
Or the invented dialect
in sperm-language.

 

(NO CÉU DE CENTAURO)

No céu de Centauro,
égua mítica, ÉGUA GUIA,
de asas e ancas velozes
dedos de Lilith;
mil e uma noites
na ponta da língua,
a órbita zen, o voo cego
no dorso, arcabouço de luz,
ao centro do poço negro,
do calabouço cósmico
sem janelas,
no céu de Centauro,
bilhões de sóis
acendem.

 

(IN CENTAUR SKIES)

In Centaur skies,
mythical mare, GUARDIAN MARE,
with fast wings and loins,
Lillith’s fingers;
a thousand and one nights
at the tip of the tongue,
the zen orbit, the blind flight
on the back, framework of light,
in the middle of the dark well,
of the cosmic prison
without windows,
in Centaur skies,
a billion suns
light up.

 

(EU SOU HEDWIG)

Eu sou Hedwig,
o CABEÇA-DE-ROUBADO da ex-alemanha oriental.
Eu sou Nano Florane,
o marinheiro passivo do navio pirata
(desnudo de significado de
frégate
ou como dizem anglo-saxões
e suas diluições:
frigging).
Eu sou Jean Gejietti,
estudei as ruas e também os mares
sei dos uniformes dos escravos
que manobravam remos no século XVII,
de sua lona cinza sobre os músculos,
suas correntes se chamavam “ramos”
e os punhos de renda, jabô e meias de seda
do capitão
Notre Homme.
Eu sou François-Timoléon de CHOISY, o abade.
Eu sou Madame Satã, Edwarda?
Ou sere Rrose Sélavy?
não precisa dizer
que mesmo sabendo outra a Aldeia
e outro o tempo,
disfarço,
e caminho,
os olhos no chão,
o coração baixo. O travesti sou eu,
não a Samantha,
formidável víbora da noite
que se vos enrosca no pescoço,
travada de pedra e birita.

TÁ LIGADA, BIANCA?

 

(I AM HEDWIG)

I am Hedwig,
the STOLEN-HEAD from the former east germany.
I am Nano Florane,
bottom seaman in the pirate ship
(robbed from the meaning of
frégate
or how the anglo-saxons say it
and its dillutions:
frigging).
I am Jean Gejietti,
I studied streets and also seas
I know the slaves’ uniforms
rowing oars in the 17th century,
their gray canvas over the muscles,
their shackles were called “branches”
and the cloth fists, dresses and silk stockings
of captain
Notre Homme.
I am François-Timoléon de CHOISY, the abbot.
Am I Madamme Satan, Edwarda?
Or am I Rrose Sélavy?
It goes without saying:
even knowing other to be the Tribe,
and other the time,
I disguise,
and walk by,
eyes on the ground,
heart down low. I am the transvestite,
not Samantha,
formidable viper of the night
around your neck,
wasted on crack and booze.

YOU FEEL ME, BIANCA?

—translated by rodrigo bravo
BIANCA LAFROY, poet and prose writer, was born in 1975 in Curitiba, Paraná, dropped out of college in the third year to work the streets as a cross-dresser in Curitiba. In 2012, Bianca published Embrulho Líquido (Liquid Package), a poetic work depicting, in free-verse, the reality and the identity of trans-people in Brazil.