catarina lins

CATARINA LINS

NO BETO CARREIRO EU VI UM MACACO QUE RIA

desculpa se eu quebrei
o protocolo das fodas
casuais

mas você voltou
pra pegar o livrinho amarelo
do ferlinghetti
e os passos no andar de cima
misturaram-se
com filas quilométricas
de turistas e meninas em camisas
suadas muito
escritas

– é que você não
é gorda
é que eu pensei em sons
que já não lembro mais na volta pra casa
e em objetos
pequenos como pêras
fatiadas
e na obesidade infantil
e em você criança
sendo tirado à força dum torneio de xadrez
porque esse método de não pensar em nada
por mais de três vezes ainda é o melhor método,
pra mim

é uma reflexão
pra concluir
depois dum filme
do hal
hartley
– é horrível –
são meditations
for dummies
são sempre os mesmos
lugares
mas melhor seria o filme
em que você descobre a bola
fugida da altinha na praia numa tarde
primaveril
e a devolve ao corpo
esguio de adolescente
marrom com gotículas
de sal, suor
& força
tal foi minha surpresa ao encontrar
entre os edredões de uma bebedeira
uma carta celeste e as 7 marcas
da porradaria.

noutra,
a cidade vazia
espera
há três dias
a carne
apodrecida de fukushima

– somos todos cúmplices
dos mesmos problemas
mecânicos
saindo de santa assim tão
e_passamoooocedo

ou tarde

ou quando
a luz do pipoqueiro ilumina
dramaticamente
um rosto cru –

existe a distância
e existe o tempo
existem mulheres que são mulheres
e ainda rochas
e paisagens
e tudo mais que se desentranha
e_passamoooda tarde

como quando você comia repolho
e escavava poemas
que diziam que era assim mesmo:
há amor, às vezes


I SAW A LAUGHING MONKEY AT BETO CARRERO WORLD

sorry if i broke
the protocol of casual
fucking

but you came back
to grab the yellow booklet
of ferlinghetti poems
and the footsteps upstairs
mixed with
kilometric queues
of tourists and girls in sweaty
sloganned
shirts

– thing is, you’re
not fat
thing is, i think of sounds
that i forget by the time i get home
and of small
objects like sliced
pears
and of childhood obesity
and of you as a kid
being forcibly removed from a chess tournament
because this method of not thinking about anything
more than three times is still the best method
for me

it’s a final
analysis
of a hal
hartley
film
– it sucks –
they’re meditations
for dummies
always set in the same
places
a better film would be
you finding a runaway
altinha ball on the beach one spring
afternoon
and giving it back to the slender
body of a teenager
brown with droplets
of salt, sweat
& strength
so imagine my surprise to find
between duvets of drunkenness
a celestial chart and 7 bruises
from a brawl.

in another,
the empty city
waits
for three days
for rotten meat
from fukushima

– we are all complicit
in the same mechanical
problems
leaving santa teresa so
e_passamooearly

or late

or when
the light from the popcorn stand dramatically
illuminates
a raw face –

there is distance
and there is time
there are women who are women
and still rocks
and landscapes
and everything else that unravels
e_passin the afternoon

like when you were eating cabbage
and digging up poems
that say that’s how it is:
sometimes, there’s love


UM SEGUNDO SEGREDO DITO A VÊNUS

a
som-
bra pro-
jetada pe-
lo data-show

sobre palavras letras formas an-
gulosas janelas por onde o ocaso entra
sem que ninguém

perceba

a mancha cinza de um nariz adunco
o modo como pronuncias darwin
à noite eu imagino como seria –

tocar-

te

&

é um assunto sério
isso da tua beleza tanto
que se hoje enxergo
em certas frutas partidas
ao meio certos corpos mar-
móreos certas vozes toantes
de estátuas de vênus em calças de yoga e te vejo
na orla
desenhada pela espuma do mar
como o perfil do maiakóvski

e lembro que meu avô gostava de bastante espuma
e me mandava sempre levantar o bico
meu avô que me ensinou
a respeitar o mar e ele não ia gostar nada
de ouvir o tipo de segredo
que se diz a Vênus
que pensando bem poderia
ser uma sereia
e ele ficou tão surpreso e riu
à beça de um poema
que achou simplório
demais sobre uma pedra
no meio do caminho
que acharia meu avô
que escreveu uma carta pra mim antes de eu nascer
imaginando como seria
quando andássemos juntos na praia
que acharia de um poema
em versos sáficos?

não ia gostar nada então deixo

meu corpo dar cambalhotas sem peso quando o mar
tá mais forte que eu e ele quase sempre
e_passamoooooooooooooooooooooooooooootá.

e penso no silêncio das sereias
e em deusas nascidas em bosques de carvalho
silêncios
que pra serem quebrados
necessitam certas
táticas – não ataques de seixos ou real-
politik
mas certos procedimentos
mágicos, talvez.


A SECOND SECRET TOLD TO VENUS

the shadow
cast by
the pro-
ject-
or

over letters words angu-
lar forms windows where the sunset slips
through without anyone

noticing

the grey smudge of a hooked nose
the way you pronounce darwin
at night i imagine how it would be –

to touch

you

&

it’s a serious subject
your immense beauty
that i see today
in certain fruits split
in half certain marble bo-
dies certain assonant voices
from statues of venus in yoga pants and i see you
at the waterfront
drawn in sea foam
like the profile of mayakovsky

and i remember that my grandfather liked a lot of foam
and always sent me to lift the tap
my grandfather who taught me
to respect the sea and wouldn’t want to hear
anything about the kind of secret
you tell Venus
who on second thought could
be a mermaid

and he was so astonished and laughed
and laughed at a poem
he found too simplistic
about a stone
in the middle of the road

what would my grandfather
who wrote a letter to me before i was born
picturing how it would be
when we walked on the beach together
think about a poem
written in sapphic verse?

he wouldn’t like it at all so i let

my body do weightless somersaults when the sea
is stronger than me and it is almost always
e_passamooooooooooooooooooooooooooois.

and i think about the silence of mermaids
and about goddesses born in oak forests
silences
that in order to be broken
require certain
tactics – not attacks with pebbles or real-
politik
but certain magic
rituals, maybe.

—translated by greice holleran
Greice Holleran writes poetry and translates literature from Portuguese to English. She is a graduate student in the Department of Portuguese at the University of Massachusetts at Dartmouth.
Catarina Lins was born in Florianopolis, Santa Catarina in 1990 and is currently based in Rio de Janeiro. She has published four books of poetry, including O teatro do mundo (7Letras, 2017) which was a finalist for the Prêmio Jabuto in 2018, and was translated into Spanish as El teatro del mundo in 2019 (Zindo&Gafuri). Her latest book, Na capital sul-americana do porco light, was published in 2018 by 7Letras. She holds a bachelor’s degree in Text Production and a master’s in Literature, Culture, and Contemporaneity from PUC-Rio.